Lincoln Detox Center 2: Nehanda Abiodun relembra

Nehanda Abiodun é uma harlemita exilada em Cuba desde o final da década de 70. É considerada a Madrinha do Hip Hop na ilha. Atualmente sua segurança está ameaçada pela normalização das relações entre Cuba e os EUA, onde o FBI segue pedindo sua cabeça, assim como a de Assata Shakur. Num relato autobiográfico, Nehanda conta sua passagem pelo Lincoln Detox Center:

Quando saí da Universidade de Columbia, comecei a trabalhar em uma clínica de metadona no East Harlem. Como muitas outras pessoas naquela época, eu achava que a metadona era uma solução clínica viável para a dependência de heroína. No final, fui demitida da clínica por me recusar a aumentar a dosagem em um dos pacientes que havia conseguido parar de usar drogas ilícitas e reduzido a administração de metadona de 120 mg para 20 mg em um espaço de tempo muito curto. A opinião dos donos da clínica era que eu havia reduzido a dosagem de metadona rápido demais. Minha defesa era que o paciente não estava mais usando drogas ilícitas, não se queixava de nenhum desconforto físico e estava lidando bem com suas responsabilidades externas. O ultimato dos donos da clínica foi que eu devia aumentar a dosagem de metadona ou seria demitida. Optei por ser demitida em vez de forçar um paciente a tomar mais drogas que o necessário.

Depois que fui demitida comecei a pesquisar alternativas à desintoxicação com drogas. Foi essa pesquisa que me levou à clínica de desintoxicação com acupuntura do Lincoln Hospital. Fundada por ativistas e ex-ativistas do Black Panther Party, da Republic of New Afrika, dos Young Lords e da Students for a Democratic Society, a clínica havia tratado com sucesso de milhares de dependentes de álcool e drogas usando a acupuntura. Muito de seu sucesso se devia a um plano de tratamento holístico abrangente aliado a aulas de educação política e trabalho comunitário dos quais os pacientes tinham que participar.

As aulas de educação política possibilitavam que o paciente compreendesse sua dependência em um contexto mais político, como a dependência contribuía não só para sua deterioração individual, mas também da família e da comunidade. Era nessas aulas que aprendiam sobre o envolvimento da CIA com o tráfico de heroína, usando os sacos que traziam os corpos dos soldados mortos no Vietnã para transportar a droga. Também aprendiam como a dependência de drogas tinha sido usada como meio de enfraquecimento de movimentos progressistas nacionais e estrangeiros.

O trabalho comunitário do qual eram convidados a participar incluía tarefas como ajudar um inquilino despejado a encontrar moradia; trabalho com direitos sociais; ajudar no transporte de uma família para visitar algum parente preso; ou estar presente em um julgamento para mostrar apoio a um dos muitos presos políticos que estavam sendo jogados nas prisões por seu trabalho político.

As aulas e o trabalho comunitário eram elementos importantes para o processo de cura porque possibilitavam aos pacientes entender sua opressão de uma maneira mais global e deixarem de ser parasitas para então contribuir com o bem-estar de sua comunidade.

O Lincoln Detox deixou de existir como um centro de saúde controlado pela comunidade quando cerca de 200 membros do departamento de polícia de Nova Iorque e suas equipes da SWAT empregaram a força para fechá-lo. A justificativa oficial foi o mau uso dos recursos mas o motivo real foi revelado quando o prefeito Koch disse que “o Lincoln Detox era um terreno fértil para células revolucionárias”.