“Tropas transgênero” deve ser um oximoro

E eis que o tranqueira Donald Trump proibiu a presença de gentes trans nas gloriosas forças armadas dos gloriosos Estados Unidos da América, essas instituições tão benfazejas para os povos deste planeta. E, só pra variar, vemos o escândalo que tal notícia provocou em gente progressista do mundo todo, que agora grita e esperneia contra mais essa aberração trumpeana. Pra clarear um pouco azideia das mana, resgatamos de um blogue morto um texto de Mattilda Bernstein Sycamore, traduzido e postado no ano passado pelas macacas idosas do Instituto Geriátrico Puerco Suíno. Mantivemos também a eloquente introdução das macacas, que são velhinhas mas sabem das coisas. Siliga:

Do blogue das Macacas Idosas, no dia 30/06/2016:

No começo do mês azamiga progressistas, essas que nas manifestações sempre gritam “não acabou, tem que acabar…” quando chega a tropa de choque, compartilhavam por aí, felizes da vida, a matéria da Falha de Sumpaulo:

PM gaúcha libera, e soldado será o 1° gay a casar de farda em 178 anos

Ótimo, respondemos nosotras macacas senis, agora teremos a honra de ser esculachadas, torturadas e mortas por PMs orgulhosamente gueis e casados!

Essa agenda reacionária, parte do pacote LGBTTIQPQP imposto pelo Império, que prioriza a assimilação em instituições fundamentais para a manutenção do Heterocapitalismo – casamento, polícia, exército, igreja – é reproduzida acriticamente até por quem acha que está fazendo a revolução. E com muito orgulho, claro!

Vamos ler Mattilda Bernstein Sycamore, que é gringa e branca mas mostra com clareza o óbvio que azamiga cheias de orgulho não querem ver [o original tá aqui, num site “progressista”… tão progressista que alerta as eventuais piratas [nosotras, por exemplo] que seu material é copirraitado ui ui ui].

[Aproveitando a oportunidade, vai aqui uma homenagem do Instituto Geriátrico Puerco Suíno a duas guerreiras trans de verdade, Marsha P. Johnson & Sylvia Rivera: seremos eternamente gratas por seus coqueteis molotov, sisters!]

“TROPAS TRANSGÊNERO” DEVE SER UM OXÍMORO

Mattilda Bernstein Sycamore

No dia 01 de julho de 2016 o Pentágono anunciará uma suspensão da proibição de pessoas trans servirem abertamente nas Forças Armadas dos EUA, de acordo com um artigo do USA Today amplamente citado na mídia gay. Embora a notícia tenha sido saudada como uma vitória para os direitos trans, é difícil imaginar algo mais longe da verdade. Permitir que pessoas trans sirvam abertamente nas Forças Armadas dos EUA apenas promove a violência de uma das principais instituições de opressão global.

Não devemos nos esquecer que as Forças Armadas dos EUA atualmente estão bombardeando o Afeganistão, o Paquistão, a Síria, o Iraque, a Somália, o Iêmem e sabe-se lá quantos outros países ao redor do mundo. Não devemos nos esquecer que os EUA têm uma longa história de apoio a regimes despóticos, que atualmente vão da Arábia Saudita a Honduras, do Uzbequistão à Guiné Equatorial. Ouviu falar de um golpe militar em qualquer lugar do mundo? São altas as possibilidades de que os EUA o estejam apoiando. E não devemos nos esquecer que os EUA financiam a guerra israelense contra os palestinos, fornecendo também as armas. Não devemos nos esquecer que, depois de centenas de anos de genocídio contra os povos indígenas dentro de suas fronteiras ilegítimas, os EUA ainda tratam as terras nativas como lixões para resíduos perigosos. Não devemos nos esquecer que os trilhões de dólares que financiam as Forças Armadas dos EUA drenam recursos de literalmente tudo o que importa neste país, de educação e saúde a habitação e assistência social.

Nos EUA as pessoas trans são rotineiramente expulsas de suas famílias de origem, assediadas na escola e no trabalho, perseguidas por líderes religiosos e políticos, e atacadas nas ruas simplesmente porque se atrevem a existir. Pessoas trans muitas vezes têm negado o acesso a serviços básicos como moradia e saúde, são demitidas de seus empregos ou nunca são contratadas, e forçadas a fugir dos lugares onde cresceram, simplesmente para sobreviver. As mulheres trans, em particular as mulheres trans não-brancas, têm um índice assustador de assassinatos brutais. Nos poucos lugares públicos que mulheres trans e dissidentes de gênero criaram para sobreviver, enfrenta-se o assédio diário das forças de segurança pública e demais agressores, sendo muitas vezes presas pelo crime de lutar pela própria sobrevivência, onde a perseguição e a brutalidade frequentemente se agravam.


O que, então, o fim da proibição de pessoas trans servirem abertamente as Forças Armadas dos EUA beneficia? Mais do mesmo: guerra sem fim, pilhagem dos recursos indígenas nos EUA e no exterior, e uma orientação militarista que vê as pessoas oprimidas como bucha de canhão para o imperialismo dos Estados Unidos. Também serviria para a manutenção da violência antitrans nos EUA, onde o crescimento da legislação transfóbica agora significa que até o uso do banheiro que corresponde a sua identidade de gênero está sujeito a um sensacional debate nacional.

Não é nenhuma surpresa que tanto a Human Rights Campaign (HRC) quanto a National LGBTQ Task Force, os dois maiores grupos de lobby LGBT do país, imediatamente festejaram a notícia de que o Pentágono em breve iria acolher soldados trans. Estas duas organizações vêm liderado a guinada conservadora na política LGBT ao longo das últimas décadas, que ficou mais perceptível no início da década de 1990, quando a inclusão de gays nas Forças Armadas dos EUA se tornou a questão central para a luta do establishment gay. O status quo militarista na política LGBT tornou-se mais pronunciado à medida em que a agenda do mainstream LGBT centrou-se no acesso ao casamento como o único meio para se obter recursos básicos que deveriam estar disponíveis a todas as pessoas, como moradia, saúde e o direito de permanecer neste país (ou deixá-lo) se você assim o quiser. Mesmo quando se fala de violência antigay e antitrans, um problema que sem dúvida afeta mais gente queer e trans, os LGBT que detêm poder pedem o fortalecimento do sistema legal racista, classista, misógino e homofóbico através de leis de crimes de ódio.

Na verdade, o sucesso dos objetivos do establishment gay não é o contraponto ao aumento das leis transfóbicas, é parte de sua causa. O movimento pelo casamento gay/inclusão militar excluiu sistematicamente qualquer pessoa que não seja aceitável o suficiente para a Fox News, de modo a obter direitos apenas para quem se dispuser – e for capaz de – se adaptar às normas da classe média branca hétero. Esqueça a luta por acesso universal às necessidades básicas – vamos apenas enfocar a isenção de impostos e os direitos de herança para os ricos. Esqueça as pessoas trans, as não-brancas, as pobres, sem-teto, deficientes, gente com HIV/AIDS, jovens, idosas. Esqueça migrantes de todos os tipos – não apenas quem vem de outros países, mas também queers que fogem de cidades e vilarejos dos Estados Unidos onde ainda não podem viver suas vidas sem medo.

Organizações como a HRC e a LGBTQ Task Force não são parte da solução para a transfobia; são parte do problema. Que alguns gays (e umas poucas pessoas trans) agora se beneficiem com a participação em intituições de opressão (voluntária ou involuntariamente) não significa que essas instituições tenham mudado. Significa que essas instituições mudaram a política gay, queer e trans, despolitizando uma geração inteira, fazendo com que todas nós sofrêssemos as consequências.

Em 2011 o Pentágono autorizou formalmente que soldados gays servissem abertamente seu país, bombardeando e oprimindo gente pobre não-branca ao redor do mundo, e, em 2015, a Suprema Corte derrubou as proibições ao casamento gay. Estas decisões foram as conquistas máximas do establishment gay, e depois que se tornaram lei muitos gays da elite sugeriram que o fim do movimento LGBT havia chegado. O que mais poderia ser necessário, afinal de contas, uma vez que os gays ricos obtiveram o mesmo poder para proteger seu patrimônio que seus pares hétero?

O quão longe chegamos dos objetivos originais da libertação gay surgida nas décadas de 1960 e 1970 – o fim do estado opressor, da religião organizada e da família nuclear; a rejeição da guerra, do racismo, da supremacia branca e do imperialismo; e uma redefinição fundamental das relações para além da monogamia obrigatória e do puritanismo sexual. Enquanto “Poder Gay” foi uma das palavras de ordem originais desse movimento, poder gay hoje significa acesso a todos os meios do Estado para oprimir e marginalizar ainda mais qualquer pessoa que esteja no caminho da gentrificação, o consumismo acrítico e a assimilação aos privilégios hétero.

Embora tenha havido por muito tempo uma divisão de classes na política gay e queer, as pessoas trans foram esmagadoramente forçadas à marginalidade. Mas agora nós até vemos o surgimento de uma elite trans – na verdade, foi a veterana militar Jennifer Pritzker, descrita como a primeira trans bilionária, cuja notória fortuna familiar é feita em cima da especulação imobiliária e de informações privilegiadas, quem impulsionou a luta pela inclusão trans nas Forças Armadas dos EUA. Em 2013 Pritzker deu US$ 1,35 milhões para o Palm Center, que então criou a Transgender Military Service Initiative, e de repente uma questão até então pouco comentada reivindicou as manchetes nacionais.

Por décadas o establishment gay tem sido dominado pela agenda dos ricos, que vê a identidade como um fim. “Gay” torna-se simplesmente uma outra forma de enfeitar toda instituição hipócrita hedionda, camuflando sua violência – casamento gay, gays nas forças armadas, policiais gay, padres gays, o que mais? Oh, vamos fazer as pessoas trans se misturarem – nos diz o establishment gay, depois de empurrar as pessoas trans para fora de um movimento que elas mesmas começaram (lembram-se da Rebelião de Stonewall em 1969, considerado o início do movimento LGBT dos dias atuais – quando mulheres trans não-brancas, travestis de rua, sapatonas machudas, michês e, sim, até algumas gays e lésbicas “respeitáveis”, lutaram contra a polícia pelo controle de corpos e vidas queer?).

Após o anúncio de 01 de julho de 2016, de que o Pentágono permitirá pessoas transgênero nas Forças Armadas dos EUA, cada ramo das Forças Armadas terá um ano para implementar a mudança de política. Isso com certeza dará origem a debates intermináveis na mídia sobre os corpos e as vidas trans. Enquanto políticos, especialistas, demagogos e “experts” de todo o limitado espectro político permitido nos fórums públicos debatem qual corpo é permitido onde, e qual tipo de transição de gênero será suficiente o bastante para quais fadigas de frente de batalha, estarão na realidade gerando mais transfobia em vez de afrontá-la. E, como no debate sobre o casamento gay, este espetáculo público hipócrita servirá de camuflagem para a continuação da mesma política externa militarista devastadora, a mesma agressividade perversa em casa e no exterior.

Em breve pessoas trans poderão servir abertamente seu país apertando botões em Nevada para destruir aldeias paquistanesas, ou voando em países ao redor do mundo a fim de apoiar tiranias. Transgênero, assim como gay ou LGBT, vai se tornar um outro apêndice para legitimar o terror de estado. Isso não é progresso – tornar-se parte da violência apenas gera mais violência. Precisamos voltar aos objetivos originais da libertação gay, trans e queer – o fim do controle do estado policial sobre os corpos e as vidas queer e trans; libertação sexual, social, política e de gênero, não só para queers mas para todas as pessoas, nos EUA e em todo o mundo.

Vamos pressionar pelo fim das Forças Armadas dos EUA e sua agenda imperialista e sanguinária – ou, pelo menos, por cortes drásticos nos recursos que lhes são destinados. Caso contrário, as profundas mudanças estruturais que necessitamos neste país nunca serão possíveis.

Oito perguntas que as queers palestinas estão cansadas de ouvir

Mais um texto malepuercamente traduzido pelas macacas idosas do Instituto Geriátrico Puerco Suíno, já postado há alguns anos em um blogue extinto.

Oito perguntas que as queers palestinas estão cansadas de ouvir

Ghaith Hilal, no The Electronic Intifada de 27 de novembro de 2013

Talvez você pense que o objetivo principal de um grupo de ativistas queer na Palestina, como nós da Al-Qaws, deva ser a aparentemente interminável tarefa de desmontar a hierarquia sexual e de gênero em nossa própria sociedade.

E é isso mesmo. Mas pode ser que você pense o contrário, a julgar pelas perguntas repetitivas que nos fazem durante nossos eventos e palestras, ou pelas perguntas que nos fazem os meios de comunicação e outras organizações internacionais.

Queremos acabar com isso de uma vez por todas. Educar as pessoas sobre seu próprio privilégio não é nossa função. Mas antes de anunciar formalmente nossa aposentadoria desta tarefa, aí vão as oito perguntas mais frequentes que nos fazem, e suas respostas definitivas.

1. Israel não proporciona um abrigo seguro para gente queer palestina?

Mas é claro que sim: o muro do apartheid tem portas cor-de-rosa cintilantes, prontas para receber todas as pessoas que derem uma desmunhecada incrível. Na verdade Israel construiu o muro para manter os homófobos palestinos do lado de fora e proteger gente queer palestina que busca refúgio ali.

Mas agora falando sério: “Israel” produz refugiados; não acolhe refugiados. Nunca houve o caso de uma pessoa palestina – descendente de uma das famílias que foram deslocadas à força, algumas vezes massacradas, muitas vezes jogadas na prisão sem acusação – que tenha transcendido magicamente o legado vivo desta história para ter asilo concedido em “Israel” – o Estado que cometeu todas essas atrocidades.

Se algumas pessoas conseguem atravessar o muro e acabam em Tel Aviv, são consideradas “ilegais”. Elas acabam trabalhando e vivendo em condições terríveis, tentando evitar a prisão.

2. Os palestinos não são todos homófobos?

Todas as pessoas dos Estados Unidos são homófobas? Claro que não. Infelizmente, as representações ocidentais dos palestinos, especialmente de pessoas lésbicas, gays, transexuais ou queers palestinas, tendem a ignorar a diversidade da sociedade palestina.

Dito isto, os palestinos estão vivendo sob uma ocupação militar de décadas. A ocupação intensifica as diversas formas de opressão experimentadas em todas as sociedades.

No entanto, a homofobia não é a forma como contextualizamos a nossa luta. Essa é uma noção que vem de um tipo específico de ativismo dos países do Norte.

Como podemos destacar a homofobia de todo um sistema opressor complexo (o patriarcado), que oprime mulheres e dissidentes de gênero?

3. Como vocês lidam com seu principal inimigo, o Islã?

Oh, agora nós temos um inimigo principal? Se tivéssemos que destacar um inimigo principal, este seria a ocupação israelense, não a religião – o Islã ou qualquer outra.

Formas mais fundamentalistas de religião estão experimentando atualmente um ressurgimento em todo o mundo, inclusive em muitas sociedades ocidentais.

Nós não vemos a religião como nosso grande principal desafio. Ainda assim, o aumento do sentimento religioso, independente de qual religião, quase sempre cria obstáculos para quem se interessa em promover o respeito pela diversidade sexual e de gênero.

O nacionalismo palestino tem uma longa história de respeito pelo secularismo. Isso fornece um conjunto de valores culturais úteis para a defesa de pessoas LGBT palestinas.

Além disso, a religião muitas vezes é uma parte importante da identidade de pessoas LGBTs palestinas. Respeitamos todas as identidades de nossa comunidade e abrimos espaço para a diversidade.

4. Existem pessoas palestinas “fora do armário”?

Estou contente por terem feito esta pergunta. Temos ótimos carpinteiros gays palestinos que fazem armários incríveis para queers, com todas as comodidades ocidentais que vocês podem imaginar – dos quais nós não queremos sair jamais.

Mais uma vez, a noção de “sair do armário” – ou a “política da visibilidade” – é uma estratégia que tem sido adotada por ativistas LGBT dos países do Norte, devido a circunstâncias específicas. Impor essa estratégia ao resto do mundo, sem entender o contexto, é um projeto colonial.

Em vez disso, nos perguntem quais estratégias de mudança social se aplicam ao nosso contexto, e se a noção de “sair do armário” faz sentido.

5. Por que não há israelenses na Al-Qaws?

O colonialismo não tem a ver com pessoas ruins sendo malvadas para os outros (israelenses “do mal” não roubam o dinheiro do almoço de pessoas queers palestinas). Ser super “do bem” não dissolve em um passe de mágica sistemas de opressão.

Nossa organização trabalha com a sociedade palestina, através das fronteiras impostas pela ocupação. Os desafios enfrentados pelas pessoas LGBTs israelenses não são nada parecidos com aqueles enfrentados pelas palestinas.

Estamos falando de duas sociedades diferentes, com culturas e histórias diferentes; o fato de que atualmente eles ocupem nossa terra não nos transforma em uma única sociedade.

Mais ainda: ser queer não elimina a dinâmica de poder entre colonizado e colonizador, apesar das boas intenções.

Resistimos ao sentimento da “família gay feliz, cor-de-rosa e global”. Organizações compostas apenas por pessoas palestinas são essenciais para descolonizar e melhorar a sociedade palestina.

6. Eu vi aquele filme sobre gays palestinos (Invisible Men/Bubble/Out In The Dark, etc.) e sinto que aprendi bastante sobre a luta de vocês.

Você se refere a filmes feitos por cineastas privilegiados israelenses ou judeus, que retratam israelenses brancos como salvadores e palestinos como vítimas que precisavam ser salvas?

Estes filmes tiram a voz e a ação das pessoas queer palestinas, retratando-as como vítimas que precisam ser salvas de sua própria sociedade.

Além disso, esses filmes reproduzem estereótipos racistas de homens árabes como instáveis e perigosos. Esses filmes são simplesmente propaganda pinkwashing, financiada pelo governo de Israel, com uma comovente história de amor coberta de glitter entre oprimido e opressor.

Se você quiser saber mais sobre a realidade de nossa comunidade e de nossa luta, tente ouvir o que pessoas queers palestinas têm a dizer, nos sites da Al-Qaws ou da Palestinians Queers for BDS.

7. A luta pelos direitos gays não é mais urgente que o pinkwashing?

Os grupos LGBT mainstream dos países do Norte querem nos fazer acreditar que gays vivem em um mundo à parte, que apenas se conectam a suas sociedades como vítimas da homofobia.

Mas não teremos libertação queer enquanto o apartheid, o patriarcado, o capitalismo e outras formas de opressão existirem. É importante atingir as conexões destas forças opressoras.

Além disso, o pinkwashing é uma estratégia usada pela grife Israel para angariar o apoio de queers em outras partes do mundo. É simplesmente uma maneira de tornar o projeto sionista mais atraente para as pessoas queers.

Esta é a repetição de uma fantasia colonial familiar e tóxica – que o colonizador pode proporcionar algo importante e necessário que o colonizado não pode proporcionar a si mesmo.

O Pinkwashing apaga nossas vozes, história e ação, dizendo ao mundo que Israel sabe o que é melhor para nós. Enfocando o pinkwashing estamos recuperando nossa ação, história, vozes e corpos, dizendo ao mundo o que queremos e como podem nos apoiar.

8. Por que vocês usam termos “ocidentais” como LGBT ou queer para descrever sua luta? Como vocês respondem a essa crítica?

Embora ocasionalmente já nos rotularam de tokenizadas, de coniventes com Israel, de ingênuas e ocidentalizadas (por gente instalada no Ocidente), nossas ativistas trazem décadas de experiência e análise concreta do imperialismo cultural e do orientalismo.

Isso tem fornecido a matéria-prima para muitos acadêmicos itinerantes. No entanto, o trabalho destes que estão na Torre de Marfim raramente, ou nunca, presta contas àqueles que fazem o trabalho de campo nem reconhece seu poder (derivado da mesma economia colonial) sobre os ativistas.

Nós devemos prestar contas a nossas comunidades locais e aos valores forjados ao longo de anos de organização.

A língua é uma estratégia, mas não pode eclipsar a totalidade de quem somos e do que fazemos. As palavras que se tornaram comuns mundialmente – LGBT, queer – são usadas com muita cautela em nossos movimentos de base. Só porque essas palavras surgiram a partir de um contexto e um momento político particulares não significa que elas carregam aquele mesmo conteúdo político quando implantadas em nosso contexto.

A linguagem que usamos é sempre revista e ampliada através de nosso trabalho. A língua catalisa discussões e nos impele a pensar mais criticamente, mas nenhuma palavra, seja ela em inglês ou em árabe, pode fazer o trabalho. Só um movimento pode.