Documentando sem incriminar 2

Ainda sobre os cuidados na documentação de eventos de rua, lembramos que convém também zelar pela proteção da própria foto/videógrafa. Recomendamos a leitura deste texto do site Autonomia Feminista Tecnológica a respeito dos metadados contidos em fotos, vídeos & etc e como deletá-los com o ExifTool e o MAT (Metadata Anonymisation Toolkit).

Em tempo: para as usuárias do Ubuntu, informamos que não só o MAT, mas também o Exiftool se encontra nos repositórios da distro. É só abrir o terminal e pedir:

$ sudo apt-get install libimage-exiftool-perl

Documentando sem incriminar

Elle Armageddon

Depois que elaborei esta série de tweets, uma amiga me pediu para fazer um post no blogue sobre como documentar uma manifestação sem incriminar quem dela participa.

É de conhecimento geral que fotos e vídeos de rostos podem ser usados por agentes do Estado para identificar e, desta forma, envolver indivíduos em investigações criminais. Para impedir esse processo de identificação, muitas manifestantes optam por usar máscaras e muitas fotógrafas e videógrafas tomam cuidado para não incluir rostos em seus registros. Embora este seja um bom começo, não é suficiente para impedir que as forças da ordem usem suas fotos e vídeos para identificar, e assim perseguir, manifestantes.

Os identificadores biométricos, que são características/traços únicos que podem ser usados para distinguir (e assim identificar) indivíduos, vão muito além dos rostos expostos. Algumas outras características pelas quais as pessoas podem ser identificadas incluem sua constituição física, o formato de seus olhos e/ou orelhas, o tamanho de suas mãos e/ou pés, sua postura, seu caminhar, sua voz e seus padrões de fala. Identificadores adicionais podem incluir o traje da pessoa (roupas, sapatos, bolsas, etc), piercings, tatuagens visíveis e cicatrizes.

O complicado é que, ainda que você não capture rosto algum, a sua câmera nunca é a única presente no local. Se você capturar uma característica identificável de qualquer tipo em uma imagem ou vídeo de vidraças sendo quebradas ou de paredes sendo pichadas, ela pode ser cruzada com outras imagens da multidão e usada para marcar e identificar suspeitos.

Uma mão tatuada quebrando uma vidraça, ou um tênis de sola pink registrado enquanto chuta um carro de polícia podem ser os elementos que faltavam para completar a sequência de imagens de câmeras de segurança pelas quais a multidão passou, de tomadas em HD de uma grande-angular da multidão feitas por jornalistas, ou qualquer outra fonte de dados que possa ter capturado partes da ação.

Portanto, se você se preocupa em documentar sem incriminar, geralmente a melhor prática é se certificar de não capturar nenhuma parte de corpos humanos em sua documentação de fogueiras, vidraças quebradas, paredes pichadas, ou carros de polícia incendiados. Isso inclui pessoas de costas, membros variados e reflexos em vidraças.

Além disso, se você capturar partes humanas em suas fotos ou vídeos, é uma boa ideia desfocar esses detalhes usando o ObscuraCam ou outra ferramenta similar, a ponto de torná-los inindentificáveis antes da publicação. Além disso, é importante DELETAR AS FOTOS E/OU GRAVAÇÕES ORIGINAIS. Dados armazenados são dados que podem posteriormente ser citados em um processo judicial, o que frustraria o objetivo de seu processo de edição.

Finalmente, ao fazer fotos ou vídeos de manifestantes, é sempre uma boa idéia primeiro pedir o consentimento. Se você aprova ou não o comportamento potencialmente criminoso não vem ao caso: não precisamos fazer o trabalho do Estado ou da polícia quando estamos em um protesto contra suas ações.