Mais um texto malepuercamente traduzido pelas macacas idosas do Instituto Geriátrico Puerco Suíno, já postado há alguns anos em um blogue extinto.
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Oito perguntas que as queers palestinas estão cansadas de ouvir
Ghaith Hilal, no The Electronic Intifada de 27 de novembro de 2013
Talvez você pense que o objetivo principal de um grupo de ativistas queer na Palestina, como nós da Al-Qaws, deva ser a aparentemente interminável tarefa de desmontar a hierarquia sexual e de gênero em nossa própria sociedade.
E é isso mesmo. Mas pode ser que você pense o contrário, a julgar pelas perguntas repetitivas que nos fazem durante nossos eventos e palestras, ou pelas perguntas que nos fazem os meios de comunicação e outras organizações internacionais.
Queremos acabar com isso de uma vez por todas. Educar as pessoas sobre seu próprio privilégio não é nossa função. Mas antes de anunciar formalmente nossa aposentadoria desta tarefa, aí vão as oito perguntas mais frequentes que nos fazem, e suas respostas definitivas.
1. Israel não proporciona um abrigo seguro para gente queer palestina?
Mas é claro que sim: o muro do apartheid tem portas cor-de-rosa cintilantes, prontas para receber todas as pessoas que derem uma desmunhecada incrível. Na verdade Israel construiu o muro para manter os homófobos palestinos do lado de fora e proteger gente queer palestina que busca refúgio ali.
Mas agora falando sério: “Israel” produz refugiados; não acolhe refugiados. Nunca houve o caso de uma pessoa palestina – descendente de uma das famílias que foram deslocadas à força, algumas vezes massacradas, muitas vezes jogadas na prisão sem acusação – que tenha transcendido magicamente o legado vivo desta história para ter asilo concedido em “Israel” – o Estado que cometeu todas essas atrocidades.
Se algumas pessoas conseguem atravessar o muro e acabam em Tel Aviv, são consideradas “ilegais”. Elas acabam trabalhando e vivendo em condições terríveis, tentando evitar a prisão.
2. Os palestinos não são todos homófobos?
Todas as pessoas dos Estados Unidos são homófobas? Claro que não. Infelizmente, as representações ocidentais dos palestinos, especialmente de pessoas lésbicas, gays, transexuais ou queers palestinas, tendem a ignorar a diversidade da sociedade palestina.
Dito isto, os palestinos estão vivendo sob uma ocupação militar de décadas. A ocupação intensifica as diversas formas de opressão experimentadas em todas as sociedades.
No entanto, a homofobia não é a forma como contextualizamos a nossa luta. Essa é uma noção que vem de um tipo específico de ativismo dos países do Norte.
Como podemos destacar a homofobia de todo um sistema opressor complexo (o patriarcado), que oprime mulheres e dissidentes de gênero?
3. Como vocês lidam com seu principal inimigo, o Islã?
Oh, agora nós temos um inimigo principal? Se tivéssemos que destacar um inimigo principal, este seria a ocupação israelense, não a religião – o Islã ou qualquer outra.
Formas mais fundamentalistas de religião estão experimentando atualmente um ressurgimento em todo o mundo, inclusive em muitas sociedades ocidentais.
Nós não vemos a religião como nosso grande principal desafio. Ainda assim, o aumento do sentimento religioso, independente de qual religião, quase sempre cria obstáculos para quem se interessa em promover o respeito pela diversidade sexual e de gênero.
O nacionalismo palestino tem uma longa história de respeito pelo secularismo. Isso fornece um conjunto de valores culturais úteis para a defesa de pessoas LGBT palestinas.
Além disso, a religião muitas vezes é uma parte importante da identidade de pessoas LGBTs palestinas. Respeitamos todas as identidades de nossa comunidade e abrimos espaço para a diversidade.
4. Existem pessoas palestinas “fora do armário”?
Estou contente por terem feito esta pergunta. Temos ótimos carpinteiros gays palestinos que fazem armários incríveis para queers, com todas as comodidades ocidentais que vocês podem imaginar – dos quais nós não queremos sair jamais.
Mais uma vez, a noção de “sair do armário” – ou a “política da visibilidade” – é uma estratégia que tem sido adotada por ativistas LGBT dos países do Norte, devido a circunstâncias específicas. Impor essa estratégia ao resto do mundo, sem entender o contexto, é um projeto colonial.
Em vez disso, nos perguntem quais estratégias de mudança social se aplicam ao nosso contexto, e se a noção de “sair do armário” faz sentido.
5. Por que não há israelenses na Al-Qaws?
O colonialismo não tem a ver com pessoas ruins sendo malvadas para os outros (israelenses “do mal” não roubam o dinheiro do almoço de pessoas queers palestinas). Ser super “do bem” não dissolve em um passe de mágica sistemas de opressão.
Nossa organização trabalha com a sociedade palestina, através das fronteiras impostas pela ocupação. Os desafios enfrentados pelas pessoas LGBTs israelenses não são nada parecidos com aqueles enfrentados pelas palestinas.
Estamos falando de duas sociedades diferentes, com culturas e histórias diferentes; o fato de que atualmente eles ocupem nossa terra não nos transforma em uma única sociedade.
Mais ainda: ser queer não elimina a dinâmica de poder entre colonizado e colonizador, apesar das boas intenções.
Resistimos ao sentimento da “família gay feliz, cor-de-rosa e global”. Organizações compostas apenas por pessoas palestinas são essenciais para descolonizar e melhorar a sociedade palestina.
6. Eu vi aquele filme sobre gays palestinos (Invisible Men/Bubble/Out In The Dark, etc.) e sinto que aprendi bastante sobre a luta de vocês.
Você se refere a filmes feitos por cineastas privilegiados israelenses ou judeus, que retratam israelenses brancos como salvadores e palestinos como vítimas que precisavam ser salvas?
Estes filmes tiram a voz e a ação das pessoas queer palestinas, retratando-as como vítimas que precisam ser salvas de sua própria sociedade.
Além disso, esses filmes reproduzem estereótipos racistas de homens árabes como instáveis e perigosos. Esses filmes são simplesmente propaganda pinkwashing, financiada pelo governo de Israel, com uma comovente história de amor coberta de glitter entre oprimido e opressor.
Se você quiser saber mais sobre a realidade de nossa comunidade e de nossa luta, tente ouvir o que pessoas queers palestinas têm a dizer, nos sites da Al-Qaws ou da Palestinians Queers for BDS.
7. A luta pelos direitos gays não é mais urgente que o pinkwashing?
Os grupos LGBT mainstream dos países do Norte querem nos fazer acreditar que gays vivem em um mundo à parte, que apenas se conectam a suas sociedades como vítimas da homofobia.
Mas não teremos libertação queer enquanto o apartheid, o patriarcado, o capitalismo e outras formas de opressão existirem. É importante atingir as conexões destas forças opressoras.
Além disso, o pinkwashing é uma estratégia usada pela grife Israel para angariar o apoio de queers em outras partes do mundo. É simplesmente uma maneira de tornar o projeto sionista mais atraente para as pessoas queers.
Esta é a repetição de uma fantasia colonial familiar e tóxica – que o colonizador pode proporcionar algo importante e necessário que o colonizado não pode proporcionar a si mesmo.
O Pinkwashing apaga nossas vozes, história e ação, dizendo ao mundo que Israel sabe o que é melhor para nós. Enfocando o pinkwashing estamos recuperando nossa ação, história, vozes e corpos, dizendo ao mundo o que queremos e como podem nos apoiar.
8. Por que vocês usam termos “ocidentais” como LGBT ou queer para descrever sua luta? Como vocês respondem a essa crítica?
Embora ocasionalmente já nos rotularam de tokenizadas, de coniventes com Israel, de ingênuas e ocidentalizadas (por gente instalada no Ocidente), nossas ativistas trazem décadas de experiência e análise concreta do imperialismo cultural e do orientalismo.
Isso tem fornecido a matéria-prima para muitos acadêmicos itinerantes. No entanto, o trabalho destes que estão na Torre de Marfim raramente, ou nunca, presta contas àqueles que fazem o trabalho de campo nem reconhece seu poder (derivado da mesma economia colonial) sobre os ativistas.
Nós devemos prestar contas a nossas comunidades locais e aos valores forjados ao longo de anos de organização.
A língua é uma estratégia, mas não pode eclipsar a totalidade de quem somos e do que fazemos. As palavras que se tornaram comuns mundialmente – LGBT, queer – são usadas com muita cautela em nossos movimentos de base. Só porque essas palavras surgiram a partir de um contexto e um momento político particulares não significa que elas carregam aquele mesmo conteúdo político quando implantadas em nosso contexto.
A linguagem que usamos é sempre revista e ampliada através de nosso trabalho. A língua catalisa discussões e nos impele a pensar mais criticamente, mas nenhuma palavra, seja ela em inglês ou em árabe, pode fazer o trabalho. Só um movimento pode.